sexta-feira, 30 de maio de 2008

A Sombra do Colosso



Nome: Shadow of Colossus
Plataforma: Playstation 2
Desenvolvedora: Sony
Gráficos: 10
Som: 10
Jogabilidade: 10
NOTA: 10

Há aqueles que ainda rotulem videeogames como brincadeira de criança. Sugiro a todos que fogem dessa premissa (estatísticas dizem que mais de 45% dos jogadores tem mais de 20 anos e são independentes) a chamar essas pessoas para terem uma experiência inovadora com um dos jogos mais bonitos já criados em todos os tempos, Shadow of Colossos.

Produzido pelo mesmo time que o do também conceituado ICO, do qual não cheguei a jogar, Shadow of Colossos não se limita a levar seus jogadores a enfrentar uma jornada épica e divertida como muitos jogos, mas tenta criar neles a contemplação do belo através de suas paisagens grandiosas, seu minimalismo preciso e seus combates envolventes.
A história é bem articulada, embora haja poucos elementos narrativos. Um rapaz montado no seu cavalo de nome Agro segue em direção a um templo após cruzarem uma enorme ponte nos confins do mundo. Lá ele deposita num ofertório o corpo de uma jovem, possivelmente sua amada. A garota está morta e o desejo do rapaz é pedir ao deus Dormin que a traga de volta à vida. Quando consegue fazer o pedido ao deus, este diz ao rapaz que para que ela volte, terá de derrotar 16 colossos, criaturas gigantes que habitam a região, mas que o preço para se concluir tal tarefa é muito grande. Assim, o jovem parte com seu cavalo em busca dos colossos para que a garota seja ressucitada.

Ao longo do jogo controlamos o cavalo Agro e o jovem que de espada em punho tenta derrotar os gigantes. É difícil se referir a Shadow of Colossus apenas como um jogo, pois foi feito claramente como obra de arte interativa. Para começo de conversa, não temos elementos comuns de um jogo; isto é, nada de pontos, score, vidas, plataformas, upgrades ou mesmo uma tela de status. Os únicos elementos "gamísticos" são uma bara de energia e um círculo que funciona como barra de grip, a resistência do rapaz em se pendurar. Também não há inimigos até que se chegue a um colosso. E até você encontrar um, vai ter no máximo a companhia de uma águia que voa solitária; nada de animais, pessoas ou monstros. Tudo foi feito para parecer real, como um lugar ermo no fim do mundo.

A direção de arte é simplesmente soberba. A natureza foi retratada com realismo impressionante, além de que os ambientes inspiram realmente a solidão e tristeza. Passamos ao longo da jornada por planícies, montanhas, pântanos e florestas. Tudo grandioso, bonito e inteligente. Os gigantes, os tais colossus, são igualmente magistrais. São enormes, alguns do tamanho de uma montanha, e possuem tantos detalhes em alta definição que ficamos admirados em ver até os pêlos das criaturas. Para poder derotá-las, o jogador deverá pensar em como atingir os pontos vitais, já que durante o jogo não há qualquer descrição, indicações ou dicas. Portanto, depois do espanto em ver a criatura, é a vez de tentar um jeito de derrotá-las, como se fôssemos o próprio jovem montado no cavalo.

Para criar essa atmosfera épica, o jogo conta com músicas belíssimas compostas pelo maestro Kow Otani e executadas por uma orquestra sinfônica. As músicas, inclusive, são apenas incidentais, tocando apenas em momentos chave, pois durante as cavalgadas temos apenas os sons da natureza para criar um clima de tristeza e solidão.

O jogo, no entanto, não é para todos. Para se tornar uma obra de arte, sacrifica todos os elementos de u, game para nos dar a sensação de que estamos diante de uma pintura ou a cena de um livro, o que dificulta a jornada daqueles que são mais impacientes. Os mais conservadores ainda reclamarão da constante queda do frame rate, a taxa de quadros do jogo, o que causa slowdowns freqüentes (a famosa lentidão). Mas tudo isso, como anteriormente comentado, foi intencional, para se criar uma atmosfera muito mais artística.

Poderia passar mais tempo em falar de Shadow of Colossus, porém os segredos do jogo são um dos trunfos dessa obra prima. Inclusive, torna-se chato tentar jogar após ter visto alguém que conheça o jogo derrortar um colosso. Parte da diversão está nas freqüentes tentativas de se descobrir como derrotá-los. Shadow of Colossus é sem sombra de dúvidas um dos 5 melhores jogos para Playstation 2, e um dos melhores de todos os tempos. A emoção de se avançar nos vastos territórios do fim do mundo, de vislumbrar os detalhes de arquitetura de cada lugar e de conseguir derrubar cada colosso existente não tem comparação. É algo único na história do entretenimento eletrônico. Só quem já passou pela relva de um campo, escalou uma montanha e viu crescer a sombra de um colosso bem na sua frente sabe o quanto é apavorante, emocionante e bonito olhar para ele até que esteja no chão depois de uma luta épica.
Jogo mais do que recomendado a todos que gostam desse formato de mídia, que cada vez mais se prova tão artística quanto o cinema. Shadow of Colossus é a prova cabal de que videogame não é mero entretenimento juvenil; é arte interativa para todos.
Alex Rocha

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